samedi 7 septembre 2013

Há vida no Lux!

Hoje à hora do almoço aproveitei para ir ao Auchan fazer umas compras - o Auchan é um grande supermercado bem conhecido aqui no Luxemburgo. Fiz as minhas compritas e quando cheguei à caixa para pagar fui ao encontro de um insólito feliz. O rapaz da caixa estava a falar com o cliente à minha frente e ajudando-o a compor um embrulho desfeito. O cliente sorriu e agradeceu com um francês com sotaque. Então o rapaz disse-lhe que, se ele preferisse, poderia falar inglês e perguntou-lhe qual a sua nacionalidade ao que o cliente respondeu “german”. O caixa apontou uma bandeirinha alemã que estava pendurada entre outras bandeirinhas de países europeus, e respondeu-lhe que também poderia falar-lhe em alemão, referindo ainda que andava a frequentar um curso noturno de alemão e assim aproveitava a ocasião para praticar. O cliente sorriu com um ar admirativo enquanto ia arrumando suas compras nos sacos. Enquanto isso, eu observava deliciada toda a cena. A expressão admirativa do cliente e a descontração do rapaz da caixa. Finalmente, o alemão disse-lhe um “au revoir” com sotaque e eu avancei porque era a minha vez de pagar. O rapaz passou os artigos no scanner e, no final, repetiu a mesma pergunta "Qual é a sua nacionalidade?" Eu que já ia preparada para isso resolvi entrar na onda de simpatia e baixar as defesas, então respondi-lhe que era portuguesa. Vi instantaneamente o seu ar desolado, olhando para as bandeirinhas onde não constava a bandeira portuguesa, mas não se intimidou, disse-me que embora não falasse bem português conseguia compreender tudo e que até conseguia dizer algumas palavras e aproveitou para contar no seu português esforçado que já tinha ido de férias a Portugal, que conhecia Aveiro, Figueira da Foz, Coimbra e que gostaria muito de voltar a Portugal para conhecer Lisboa. Foi quando resolvi devolver-lhe a pergunta, “e a sua nacionalidade, qual é? “sou peruano", respondeu. Então fui eu que não resisti a contar-lhe que já tinha estado no Peru, e que tinha conhecido muitos lugares bonitos por lá. Tudo isto enquanto ia arrumando as minhas compras nos sacos e efetuava o pagamento. No final eu não resisti a dizer-lhe que achei muito surpreendente e simpática a maneira de ele fazer o seu trabalho e pedi-lhe para que continuasse assim, porque desse modo fazia a diferença. Então ele respondeu “eu sou o caixa, não sou a máquina”, sou humano, lido com seres humanos, preciso humanizar o meu trabalho. Achei lindo e isso fez o meu dia. A felicidade não é mais, de facto, do que a sucessão de muitos momentos felizes. As vezes só é preciso deixar fluir para que venham ao nosso encontro. Hoje tive um e reconheci-o e a boa disposição perdurou durante todo o dia. Quantas pessoas terão ficado felizes pela mesma razão depois de mim? E quantos momentos felizes estarão fechados dentro de nos à espera de acontecer?... em tempo: Eu sei que só quem conhece o meio social onde vivo pode entender a dimensão da minha admiração por este simples acontecimento do dia, mas a verdade é que muitas pessoas interpretariam a atitude do rapaz como um intrometimento, "furar a bolha" que protege cada indivíduo. Por isso foi tão surpreendente para mim.

samedi 26 mars 2011

Desiderata



Go placidly amid the noise and haste,
and remember what peace there may be in silence.
As far as possible without surrender
be on good terms with all persons.
Speak your truth quietly and clearly;
and listen to others,
even the dull and the ignorant;
they too have their story.

Avoid loud and aggressive persons,
they are vexations to the spirit.
If you compare yourself with others,
you may become vain and bitter;
for always there will be greater and lesser persons than yourself.
Enjoy your achievements as well as your plans.

Keep interested in your own career, however humble;
it is a real possession in the changing fortunes of time.
Exercise caution in your business affairs;
for the world is full of trickery.
But let this not blind you to what virtue there is;
many persons strive for high ideals;
and everywhere life is full of heroism.

Be yourself.
Especially, do not feign affection.
Neither be cynical about love;
for in the face of all aridity and disenchantment
it is as perennial as the grass.

Take kindly the counsel of the years,
gracefully surrendering the things of youth.
Nurture strength of spirit to shield you in sudden misfortune.
But do not distress yourself with dark imaginings.
Many fears are born of fatigue and loneliness.
Beyond a wholesome discipline,
be gentle with yourself.

You are a child of the universe,
no less than the trees and the stars;
you have a right to be here.
And whether or not it is clear to you,
no doubt the universe is unfolding as it should.

Therefore be at peace with God,
whatever you conceive Him to be,
and whatever your labors and aspirations,
in the noisy confusion of life keep peace with your soul.

With all its sham, drudgery, and broken dreams,
it is still a beautiful world.
Be cheerful.
Strive to be happy.

(Max Ehrmann, Desiderata, Copyright 1952)

lundi 10 janvier 2011

mardi 28 décembre 2010


foto de Catia Coias

lundi 13 décembre 2010

Welcome home Alice!


Alice viajou demais.
Agora está de volta à realidade, ao seu espaço e ao seu tempo.
A viagem deixou-a totalmente sem fôlego... está exausta.
Alice está de volta trazendo consigo coisas boas e más, agora vai ter que fazer a triagem de tudo o que trouxe do "País das Maravilhas"...
Alice acordou.
Primeiro fez uma birra enorme porque queria continuar a sonhar, depois começou a lembrar-se de alguns episódios dolorosos do sonho... ficou muito triste, encolheu-se e ficou quietinha, a chorar durante bastante tempo, no limiar entre sonho e realidade...
Mas de repente levantou-se, lavou os olhos e olhou-se no espelho... ainda está um pouco zonza... ainda está a achar tudo meio sem graça à sua volta mas começa já a reparar em algumas coisas boas que antes não conseguia ver e que a fazem sentir-se bem por estar de novo "em casa".
Mas... e as emoções?E a magia? E os sonhos?
"Deve haver um jeito de viver as coisas com intensidade, sentido e significado, tudo junto e simultaneamente", pensa ela... "preciso de objectividade para que as minhas imersões não se transformem na toca do coelho do País das Maravilhas, pois a vontade é não sair de lá..."
"Não quero abdicar do "vôo" mas também não quero perder o caminho para casa", diz para si.
"Vou ter que seguir entre vôos picados e mergulhos no abismo, entre quedas espectaculares e piruetas acrobáticas, entre vôos razantes e de reconhecimento... Tenho de aprender a voar com os arranhões e nódoas negras que ficaram de muitas quedas para me lembrar dos meus limites, mas sobretudo preciso de me lembrar do caminho de volta para não me perder nesse transporte..."
"Welcome home Alice!"

vendredi 10 décembre 2010

FELIZ ANIVERSÁRIO CLARICE!


Se fosse viva, Clarice Lispector completaria hoje, dia 10 de Dezembro de 2010, 90 anos de idade.
Neste momento ando a ler uma biografia dela feita por Benjamin Moser e estou a gostar imenso.
Lendo sobre suas origens, antepassados e experiência de vida compreende-se melhor porque ela era assim tão original na sua forma de transmitir o sentir. Nada foi um acaso. Vivendo uma infância dificil, rodeada de gente sofrida por causa de uma realidade traumática, a menina Clarice refugiou-se na escrita, suas historinhas mágicas eram a porta para um mundo de fantasia à sua medida.
Aos 19 anos publicou seu primeiro livro "Perto do Coração Selvagem". A Clarice mulher era uma mistura de "femme sage et libre" e a escrita era o seu espaço de liberdade, onde se revia.
O seu estilo solto, elíptico e fragmentário tornou-se uma marca e surpreendeu a crítica da época ao abordar de forma tão inovadora a problemática existencial.
Dizem até que para se ler Clarice Lispector é necessária uma certa preparação psicológica tal é o mergulho que fazemos dentro de nossas almas quando a lemos...
De facto, depois de conhecê-la é impossível não render-se à sua escrita indefinida, mágica, mistura de prosa e confissão, discurso íntimo e poesia. Clarice sempre soube resolver os nossos mais secretos medos.... sempre esteve perto da "legião estrangeira" que existe dentro de cada um de nós... nunca encontrei outro autor que soubesse traduzir em palavras essa linha de mistério e fogo tão sub-repticia que é a fronteira entre o sentir e outro sentir...
Suas palavras marcaram e continuam a penetrar em mim de forma indelével, traduzem a minha alma por isso gostaria de lhe dizer hoje, em jeito de homenagem, Feliz Aniversário Clarice!