mercredi 28 avril 2010

Pollock:
Ah! A glória de pintar
frescos de sonho
no silêncio crispado de raiva
deixando as raízes quebrarem a crosta
e florescerem nos dedos...

lundi 26 avril 2010

Jesusalém


Há anos que eu ouvia falar de Mia Couto mas sempre adiei a descoberta... muitos outros livros se entrepuseram até que um dia alguém trouxe até mim um Mia Couto lido e experimentado e apresentou-me "Jesusalém". E foi tão persuasivo e deu-me com tanto empenho a garantia de que eu iria gostar que não pude adiar mais e na primeira oportunidade adquiri o livro.
O amigo tinha razão... é um oásis!
Depois de ter passado um bom tempo a ler livros "muito bons" que me roçavam a alma como uma tangente veio enfim um que entrou em mim como uma lâmina de dois gumes. Acredito que todos os livros têm um momento para serem lidos, um livro que nos fala hoje de uma forma especial pode passar-nos totalmente "ao lado" numa outra altura da vida... Jesusalém tinha a forma do "M" do Meu Momento.
Se fizer uma primeira análise direi que é um livro triste. O tema é a tristeza, o exílio, a fuga, o isolamento, é um livro feito de silêncios, carências e mágoas, e no entanto exala esperança e comove porque mostra os avessos da alma, sim é isso: vira a alma do avesso! O avesso do ressentimento, o avesso da loucura, o avesso da mágoa o avesso da tristeza e o avesso daquilo que não se ousa mostrar porque é a parte mais fraca, mais vulnerável e mais frágil da alma humana, o amor. Mia Couto aborda tudo isso com uma beleza poética comovente, transformando a crueza em doçura à qual é impossível ficar indiferente... um espelho para a alma que nos faz sentir mais indulgentes com os outros e connosco... afinal fica tudo explicado... afinal o que resta é a fragilidade e a impotência na busca incessante do amor...
O meu Jesusalém está todo sublinhado e tenho a certeza que vou procurá-lo muitas vezes só para sentir o prazer das palavras a entrarem em mim de novo...
Muito obrigada, amigo querido, pela descoberta! :)

dimanche 18 avril 2010

Toscana


Lugar suave e sensual... de paisagens doces e redondas... de campos ondulados de verde em degradée... oliveiras, vinhas, montes.... e os ciprestes que quebram a "monotonia" daquele mar verde sob um céu baixo cheio de nuances... lindo!
Em contraste, a riqueza artística das cidades com seus duomos e palazzios sumptuosos, amarelos, ocre, rosa, laranja, avermelhados, de janelas pintadas de verde, que olham as ruas onde passa a vida barulhenta e escutam o silêncio dos becos e pátios floridos, onde crianças brincam e onde chilreiam passarinhos...

A Toscana convidou-me à introspecção, ao exame, a olhar a vida e o que me sucede com um olhar mais doce do que aquele que normalmente tenho no meio da azáfama e das obrigações da outra vida, aquela à qual não posso fugir e da qual não sou tão senhora assim...
A beleza adoça a alma. Pude sentir isso. Senti-me mais doce e maleável... quando se olha e se respira tanta beleza e suavidade não é difícil compreender o impacto que isso teve na inspiração de tantos artistas maravilhosos... e ao ver as estátuas da Piazza di la Signoria e as maravilhosas telas de Boticcelli na Galeria dos Ofícios senti o pulsar do espírito toscano na beleza que se vive e respira através da arte...

Em Florença fiz o exercício de andar por lá como se fosse um dos muitos personagens históricos que lá viveram. Assim, ao ver o rio Arno e a Ponte Vechio, imaginei Dante Allighieri olhando o pôr do sol e pensando em trechos da Divina Comédia. Ao passar a mão na pedra de uma esquina imaginei Miguel Angelo fazendo o mesmo gesto, escultor sentindo o pulsar da pedra que esculpe... e ao ver as nuances daquele céu ao pôr do sol e os reflexos dourados no Arno, imaginei Boticelli olhando esse quadro e vendo uma vénus emergir do Arno sobre uma concha...

Fiquei cativada e cativa. Gostaria muito de lá voltar... e, se voltar, não me vou esquecer nem das tintas nem dos pincéis!!