vendredi 26 mars 2010

Pequena divagação matinal


Hoje um amigo contou-me que tinha adquirido um gira-discos (ainda se encontram algumas relíquias por aí...) e mais 400 LP's antigos. Não pude deixar de felicitá-lo pela sua aquisição. Além do facto de todas aquelas melodias lhe poderem proporcionar uma longa e deliciosa sessão nostalgia que ele pode até dividir em pequenas doses diárias saudáveis para fazer render mais o prazer... rsrs, achei que havia também em tudo isso um reviver de experiências sensoriais que não era de desprezar. Então pedi-lhe para que, após a sua experiência auditiva, partilhasse comigo as sensações que tivesse ao ouvir de novo aquele barulhinho característico da agulha a passar no vinil e a saltar de vez em quando, no caso do disco estar riscado... rsrs
Eu sou meio nostálgica mesmo... não pelos gira-discos ou pelos LP's (acho que agora a qualidade sonora é incomparavelmente melhor sem falar na arrumação que é muito mais prática) mas havia toda uma solenidade em torno da compra de um LP... o chegar a casa, abrir a capa, retirar o disco de vinil negro e brilhante do envólucro plástico, limpá-lo com aquela esponjinha de veludo e depositá-lo, cuidadosamente, no prato do gira-discos, depois carregar na tecla "play" e ver o braço do gira-discos com a sua agulha mágica avançar devagar e pousar delicadamente bem no comecinho do enorme disco, e depois, lentamente, ver a agulha subir e descer ao sabor da ondulação do vinil... se a ondulação fosse demasiada era uma chatice, a agulha acabava por saltar e zut! lá se ia a sequência melódica! Então talvês fosse melhor pôr o disco debaixo de uma pilha de muitos outros para ele ficar mais direitinho! rsrs
Se pensarmos bem, toda esta experiência tinha muito de sensual... um prazer que foi perdido em troca de uma maior performance técnica e qualidade sonora, um pouco, aliás, como todo o resto que acompanha os gira-discos... agora é tudo mais perfeito e mais plastificado... menos os sentidos, valha-nos isso!!

mercredi 24 mars 2010

África minha


Quando eu vi pela primeira vez o filme de Sidney Pollack senti um cocktail de emoções muito particular, muito especial que me empurrou para longe... Depois de reflectir um pouco descobri porquê. É que no filme, por trás do romance entre Robert Redford e Merryl Streep, escondem-se outras histórias de amor, todas elas correspondidas. O amor latente e velado entre amo e serviçal e vice-versa, o estranho amor baseado no profundo respeito entre um caçador e as suas presas e vice-versa e o amor de uma dinamarquesa por África e direi igualmente "e vice-versa" porque acredito que uma terra que é amada ama em retorno. Digo isso porque sinto assim e porque creio que o meu fascínio por esse filme está ligado a uma espécie de ressonância que sinto cada vez que o vejo. Ressonância de sons, de cheiros, de imagens e de emoções que vêm de bem longe... da África da minha infância.

E é então que chega de novo até mim um tempo feliz, de despreocupação total, de pés descalços na terra, de aventuras mil imaginadas e vividas com os meus sobrinhos (que são quase da minha idade) e primos.

E ecoam em mim os sons de África. O barulho da cozinha do restaurante Haiti que ficava lá no prédio (será que ainda existe?) e os ruídos que vinham da oficina de automóveis que ficava mesmo ao lado, e os cantares tristes e cadenciados das lavadeiras enquanto desfaziam as trouxas de roupa e lavavam lá no tanque...

E ecoam em mim os cheiros de África. O cheiro inconfundível e intenso da terra quente e molhada ainda a exalar vapor depois de uma trovoada daquelas que iluminava o céu todo (nunca na minha vida vi coisa igual) e o cheiro a chá e bolinhos do apartamento dos meus avós que ficava pegadinho com o nosso...

E ecoam em mim as imagens de África. O padrão das cortinas do meu quarto de menina, as formas geométricas dos vasos de flores que enfeitavam as varandas e aquele corredor imenso... interminável... que acabava no torreão de vidro e onde se disputavam as corridas de bicicleta mais radicais, mais loucas e mais perigosas que eu já vi na minha vida!!
E aquelas retas estreitas que desapareciam na linha do horizonte e que tínhamos de percorrer quando íamos de Luanda para Nova Lisboa e que os animais selvagens gostavam de ocupar de vez em quando, o que era sempre motivo de festa e de exclamações por parte de adultos e miudagem. E, claro, aquela sensação de imensidão que se tinha quando se subia num morro e olhávamos a paisagem até lá onde a terra desaba...

Ecoa em mim, enfim, a felicidade de uma meninice bem vivida e livre de medos em que todos desejávamos ir dormir depressa porque queríamos acordar logo para ir correndo viver o dia novinho em folha que ia chegar e que nos preparava sempre agradáveis surpresas.
África minha e amada!!

dimanche 21 mars 2010


Desiderata (coisas que se desejam)

Bem-vindos!
É um prazer poder "viajar" com vocês através de textos e imagens neste Desiderata (coisas que se desejam).
Farei o possível para levá-los sempre por caminhos bonitos que os façam voar mas sempre voltar...
Nesta viagem não é preciso apertar o cinto, ao contrário, descalcem-se, dispam-se, livrem-se de roupa e alma apertadas e deixem-se flutuar ao sabor do sonho, da poesia, e de algumas das coisas que eu vou amando e desejando...